sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Entrevista: Disaffected

Novamente reunidos desde 2006, os Disaffected lançaram em Maio deste ano o seu segundo trabalho de estúdio, "Rebirth". O baixista António Gião falou com o THMS sobre o novo álbum e as experiências vividas pela banda desde o seu renascimento.
Comecemos por uma questão que já devem estar fartos de responder. Como se deu esta reunião dos Disaffected?
Nunca é demais lembrarmo-nos de como tudo recomeçou! Após ter começado a recuperar do seu acidente de mota que o deixou em coma e às portas da morte, o Sérgio (guitarrista) contactou os restantes membros da formação do “Vast” para sondar as suas disponibilidades para recuperar os Disaffected. Nem todos estando dispostos a voltar com a banda, foi necessário procurar novos elementos e lentamente começar a tocar os temas do disco. Concluído esse processo, e após uma série de concertos muito bem-sucedidos, começámos a pensar em gravar os temas que entretanto também tínhamos começado a compor. Daí rapidamente passámos à ideia de gravar um álbum. E assim foi nascendo o “Rebirth”.

Foi difícil recuperar a química perdida ao longo destes anos de separação? Sentem que têm hoje uma relação diferente da que tinham nos anos 90?
O início foi complicado. Havia elementos novos na banda e os que transitaram desde os tempos do “Vast” há mais de 10 anos que não tocavam juntos. Foi necessário recuperar a tal química e ter paciência para que com o tempo tudo estivesse devidamente oleado. No final acabámos por conseguir uma relação mais madura, mais confiante e mais sólida do que a que existia nos anos 90. Levou o seu tempo, mas valeu a pena!

O "Vast" é visto como um trabalho marcante no underground nacional. Sentiram pressão na hora de compor o seu sucessor?
Obrigado! Sabemos que o “Vast” tem de facto um lugar bastante especial na “cena” nacional. Assim sendo, é natural que sentíssemos bastante pressão na hora de projectar o seu sucessor. Estávamos cientes de que os fãs do “Vast” e a crítica em geral iriam ser muito exigentes para com o nosso novo trabalho. No entanto, mais que quaisquer outras pessoas, nós próprios sentimos a obrigação de não defraudar o nome, a imagem e a recordação que “Disaffected” tinha em nós. Se era para voltar, era para voltar com um trabalho nunca inferior ao “Vast”. Ou era igualmente bom, ou superior, ou então não valia a pena estarmos a voltar passados tantos anos.

Ouvindo os vossos dois álbuns, nota-se perfeitamente uma ligação entre ambos. Contudo, existem algumas diferenças. As canções do “Rebirth” são, por exemplo, consideravelmente mais longas que as do “Vast”. Que outras diferenças encontram entre eles?
É verdade. Existe uma continuidade de um álbum para o outro, nomeadamente em termos das estruturas, sonoridades e complexidades das músicas, mas também alguma evolução e novidade de um para o outro. Os temas do “Rebirth” aproveitam o estilo progressivo que tínhamos criado no “Vast”, mas elevam-no a outros patamares – daí as músicas serem substancialmente mais longas. A opção mais fácil teria sido simplesmente emular o “Vast”, mas assim continuaríamos presos ao passado. Quisemos acrescentar mais qualquer coisa com mais apontamentos de percussão tribais, mais variedade de vozes (nomeadamente femininas) e mais linhas de guitarra e de baixo ainda mais complexas. Há muito mais variedade no “Rebirth”, o que também acaba por torná-lo um trabalho ainda mais difícil de entender que o “Vast”. Se o “Vast” já levava algum tempo a revelar-se ao ouvinte, o “Rebirth” requer uma dose de paciência ainda maior. Ao final, porém, a sua experiência é ainda mais rica.


Qual é o conteúdo lírico do “Rebirth”?
As letras do “Rebirth” fazem um relato metafórico do longo caminho que os Disaffected tiveram de percorrer desde a sua ruptura em meados da década de 90 até aos dias de hoje. O álbum é conceptual e está dividido em duas partes distintas. Começa no fim da era “Vast”, vai explorando as dificuldades ultrapassadas e acaba por desembocar na sensação de realização de termos chegado onde mais queríamos estar ao início da longa caminhada. É um pouco como a estrada da vida de qualquer um de nós. Altos e baixos, dificuldades e alegrias. Assim, embora esteja obviamente ligado ao renascimento da banda, é apropriável por qualquer pessoa que tenha renascido perante as suas maiores dificuldades.

Os Disaffected surgem agora ligados à Massacre Records. Como surgiu esta ligação e por quantos discos vai durar?
Quando concluímos o “Rebirth” enviámos uma cópia a 4 ou 5 editoras estrangeiras que pensámos que melhores condições nos poderiam oferecer. As respostas foram quase imediatas e, de todas, a da Massacre Records foi a mais vantajosa e que mais ia ao encontro das nossas expectativas. O contrato que assinámos foi apenas para o lançamento de um CD, com a opção de prorrogação por outros. Por enquanto estamos muitíssimo satisfeitos com o trabalho de promoção e de divulgação da Massacre Records. Temos conseguido chegar a ouvintes em países que só com o “músculo alemão” foi possível atingir. Vamos aguardar para ver como tudo continua a correr e depois pensar no futuro.

Já se passaram uns meses desde o lançamento do “Rebirth”. Que balanço fazem do feedback recebido e das experiências que têm vivido desde que se voltaram a reunir?
É verdade. O “Rebirth” já saiu em finais de Maio, pelo que já tivemos oportunidade de ver muitas reviews ao nosso trabalho. Felizmente, a esmagadora maioria dessas críticas têm sido muito positivas. Há sempre uma ou outra opinião menos favorável ou com menos paciência para o nosso género musical, mas de uma forma geral o “Rebirth” tem-se destacado quase sempre com notas acima de 80% - inclusivamente com alguns 100%! No entanto, mais importante ainda, temos recebido muitas mensagens de apreço por parte dos “ouvintes anónimos”, ora saudando o regresso por conhecerem o “Vast”, ora por o quererem conhecer após terem tomado contacto com Disaffected através do “Rebirth”.

Como banda, que diferenças encontram entre o underground nacional dos anos 90 e o actual?
O underground nacional está completamente diferente de há 20 anos para cá. Por um lado, há muito mais bandas portuguesas, com muito mais qualidade, do que nos anos 90. Os meios de divulgação actualmente são também muitíssimo melhores. Hoje todos temos acesso ao Youtube, ao Myspace, ao Facebook, etc. o que é espectacular em termos de projecção. Tudo factores que tornam o nosso underground mais interessante que há 20 anos atrás. Por outro lado, parece haver cada vez menos espírito familiar ou irmandade entre o pessoal da “cena”. Perdeu-se um pouco o fascínio e o orgulho com o ser/pertencer a essa mesma “cena”. Há duas décadas atrás um qualquer concerto de 3 ou 4 bandas portuguesas era q.b. para encher um pavilhão com 500 ou 600 pessoas, actualmente se essas mesmas bandas tiverem 50 ou 60 pessoas podem dar-se por satisfeitas. É certo que a crise também não está a ajudar, mas o cerne da questão até talvez nem sempre seja exclusivamente económica, mas antes de perda de algum “espírito de corpo“ – o que fazia do underground dos anos 90 mais fascinante.


Qual foi a sensação de abrir o Vagos Open Air 2012?
Espectacular! Verdadeiramente espectacular. Embora já tenhamos tido a oportunidade de tocar noutros grandes eventos como o Caos Emergente e como banda de abertura de bandas estrangeiras, a recordação deste VOA terá sempre um lugar muito especial. Embora tenhamos a noção que a qualidade da mistura do nosso som não tenha sido brilhante, ficámos muitíssimo satisfeitos com a nossa actuação. Felizmente, à excepção de uma ou outra voz (quase sempre) dissonante, a grande maioria dos comentários que tivemos foram também muito positivos.

O que andam a planear para os próximos tempos? Algum concerto agendado?
Neste momento, estamos a começar a compor. O “Rebirth” levou-nos imensos meses a compor, pelo que temos que começar o quanto antes a trabalhar no seu sucessor. Entretanto, ainda temos uns quantos concertos planeados e outros ainda em fase de negociação. Há também a possibilidade de tocar umas quantas datas no estrangeiro, mas tudo ainda por confirmar.

Há alguma coisa que queiram acrescentar antes de terminarmos?
Sim, obrigado. Queremos agradecer esta entrevista e a oportunidade de figurar no The Hanged Man´s Swansong. É uma honra. Fazemos votos que o excelente trabalho que este espaço vem proporcionando aos fãs do género se possa manter por muitos e longos anos. Até breve!

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