terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vagos Open Air 2012

Vagos Open Air 2012
Aveiro, Vagos - 03-04/08/2012

Foi no ano de 2009 que o então desconhecido Vagos Open Air teve a sua primeira edição, começando a marcar aí a sua posição e importância na divulgação do Metal em Portugal. Com a organização a cargo da ambiciosa Prime Artists, o festival contou com grandes nomes desde o início, tendo por ele já passado ao longo dos anos artistas como Amon Amarth, Katatonia, Carcass, Meshuggah, Opeth, Morbid Angel, entre muitos outros.

Por isso, a divulgação do cartaz para a quarta edição era aguardada com imensas expectativas. Contudo, a organizadora conseguiu surpreender, confirmando não só o regresso de Arch Enemy, Overkill, Eluveitie e Enslaved, mas também estreias de peso em Portugal, onde figuram os At the Gates, os Arcturus e os Coroner, por exemplo. Uma diferença em relação aos anos anteriores foi a presença de apenas duas bandas nacionais, os Disaffected e os Mindlock.

Dia 1
Com a responsabilidade de inaugurar a quarta edição do Vagos Open Air, os nacionais Disaffected apresentaram-se perante um público reduzido e ainda exposto ao calor de fim de tarde. Gozando de um som aceitável, onde predominavam os teclados altíssimos, a banda centrou a actuação no novo disco, "Rebirth", mas sem esquecer o álbum de 1995, representado pelo tema "Vast - The Long Tomorrow". Mesmo sem impressionar, Sérgio Paulo e companhia receberam sempre o apoio dos presentes. 

Em seguida, os Northland debitaram o seu Folk Metal para um recinto já mais composto. Apesar dos problemas de som iniciais, que tornaram a voz de Pau Murillo inaudível durante grande parte da primeira canção, a prestação dos espanhóis criou os primeiros movimentos na plateia e foi a partir daqui que se começou a sentir o ambiente de festa típico do Vagos.

Porém, os Eluveitie revelaram-se uma proposta ainda mais interessante no mesmo género. Abrindo com "Helvetios", os suíços souberam agarrar o público e mantê-lo interessado do início ao fim. “Inis Mona”, com a melodia a ser cantarolada incessantemente, e “Kingdom Come Undone”, na qual o vocalista pediu o maior circle-pit do festival, revelaram-se os pontos altos de um concerto muito agradável.

O céu já estava a escurecer quando “Axioma” anunciou a entrada dos Enslaved em palco. Regressados a Portugal depois de terem cá estado em Dezembro, voltaram a apresentar um alinhamento baseado no material mais recente, mas mais extenso e com um piscar de olho ao passado. Além de “Ethica Odini”, “Isa” ou “Return to Yggdrasil”, os noruegueses ainda foram buscar ao baú “Allfǫðr Oðinn” do velhinho EP “Hordanes Land” e uma cover desnecessária de “Immigrant Song”, de Led Zeppelin, que bem poderia ter sido trocada por outro tema próprio. Ainda assim, e mesmo a tocar num tipo de ambiente que não lhe é favorável, o quinteto foi protagonista de uma actuação cativante graças à sua atitude bem-disposta e comunicativa.

Menos sorte tiveram os compatriotas Arcturus. A pisar solo português pela primeira vez, tiveram um início complicado muito por culpa do som horrível que saía do PA. Além disso, as primeiras canções foram recebidas com a indiferença e confusão de muitos espectadores que pareciam não entender a musicalidade excêntrica da banda e as vocalizações algo exageradas de ICS Vortex. Contudo, aos poucos tudo se foi recompondo e o público começou finalmente a interagir. Num alinhamento que visitou os quatro discos dos noruegueses, com ênfase para a surpresa “To Thou Who Dwellest in the Night”, “Painting My Horror” encerrou um concerto que soube a pouco. No fim, ouvia-se um coro de “we want more!”, mas foi inconsequente.

Era meia-noite e o recinto já se encontrava muito bem composto para receber os At the Gates, cabeças-de-cartaz do primeiro dia do festival. Assim que se começou a ouvir o riff inicial de “Slaughter of the Soul”, bastou que Lindberg gritasse “Go!” para que se instalasse o caos. Felizes com a recepção eufórica a que tiveram direito, os suecos não defraudaram, interpretando com mestria e acompanhados por um excelente som 19 canções dos seus vários trabalhos. Depois de vários clássicos e muita intensidade, a banda despediu-se ao som de “Blinded by Fear” e “Kingdom Gone”, assegurando o melhor concerto do dia.

Por esta altura, já muitos tinham optado pelo descanso na tenda mais próxima, o que levou os Nasum a tocarem para um público de dimensões bastante inferiores ao esperado. Insatisfeito, Keijo agradeceu aos resistentes e mandou uma alfinetada aos suckers que ignoraram a primeira e última actuação dos suecos em terras lusas. Donos de uma brutalidade desmedida, colocaram aqueles que ainda tinham forças a circular num pit violento que só terminou quando o seu Grindcore se deixou de ouvir. Foi uma pena que muitos tivessem relegado uma ocasião tão especial como esta para segundo plano.

Dia 2
Devido a atrasos na viagem e à longa fila para entrar no recinto, só foi possível assistir aos dois últimos temas do concerto dos Mindlock. Contudo, ficou a sensação de que os algarvios foram um bom aquecimento para aqueles tiveram o prazer de vê-los.

Momentos depois, os Chthonic ainda só iam no soundcheck e já estavam a receber ovações. Tudo por causa da baixista Doris Yeh, que parecia atrapalhada com a situação. Mas o quinteto oriundo do Taiwan mostrou que tinha muito mais para oferecer quando começou a tocar e não tardou a conquistar os presentes com o seu Black Metal melódico. Num alinhamento inteiramente dedicado ao seu mais recente álbum, "Takasago Army", a banda revelou-se coesa e segura em palco, tendo seguramente angariado novos fãs nesta passagem por Aveiro.

Os holandeses Textures foram os terceiros a entrar em acção no último dia desta edição do Vagos Open Air. Aliando um bom som a uma execução competente q.b., apresentaram um alinhamento equilibrado com temas mais pesados, como "Stream of Consciousness" que até teve direito a uma wall of death, e outros mais leves, sendo "Consonant Hemispheres" o maior exemplo.

Seguiram-se os Coroner, que reuniram um público mais maduro à frente. Acompanhados por um quarto membro responsável pelos efeitos, os suíços surpreenderam com a sua excelente forma, com destaque para o guitarrista Tommy T. Baron que brilhou com os seus elaborados solos. Embora "Internal Conflicts" tenha sido o primeiro tema interpretado, foi o clássico "Masked Jackal" que começou a criar mossas visíveis. Numa breve pausa, Ron Royce agradeceu a um dos promotores o convite para tocar em Portugal e dedicou-lhe "Die by My Hand". A fechar um grande espectáculo ficou "The Invincible", canção da primeira demo da banda.

A noite já tinha caído e estava na hora de ver uma das maiores atracções do dia, os Overkill. Depois de um demorado soundcheck, os americanos abriram com "Come and Get It" e rapidamente mostraram que estavam ali para thrashar forte e feio, com uma postura muito enérgica e amigável. O público, claro, não ficou indiferente e foi incansável no apoio, moshando e cantando sempre que possível. Num alinhamento variadíssimo, embora com maior enfoque na novidade "Electric Age", "Oldschool", "In Union We Stand" e a cover dos Subhumans "Fuck You", esta última já em encore e com muita brincadeira à mistura, foram alguns dos pontos altos do melhor concerto desta edição de 2012 do Vagos Open Air.

Restavam os cabeças-de-cartaz Arch Enemy, que eram aguardados ansiosamente pela plateia mais numerosa de todo o festival. "Yesterday Is Dead and Gone" serviu de banda-sonora a uma entrada em palco fortíssima que levou os fãs ao rubro. Ainda com "Khaos Legions" a ocupar a maior fatia do alinhamento, não esqueceram canções emblemáticas do seu passado, como "Nemesis", "We Will Rise" ou "My Apocalypse". Em termos técnicos, é inegável que a banda se revelou sempre muito coesa, mesmo com Daniel Erlandsson a tocar com uma mão partida, mas o mesmo não se pode dizer da postura. Com Gossow a incentivar constantemente o público a bater palmas nas partes que antecediam os momentos mais pesados das canções e a cantarolar os solos melosos protagonizados por Michael Amott, a actuação rapidamente se tornou repetitiva e aborrecida para alguns. No entanto, a maioria não parecia importar-se e até cantava em coro "és tão boa!" para a vocalista. Parvoíces à parte, os suecos cumpriram o seu dever de forma exemplar e terminaram em grande o Vagos Open Air 2012. Agora resta-nos aguardar pela quinta edição e esperar que o cartaz volte a ser tão apelativo como tem sido desde o primeiro ano.

Fotografia: Vera Tatiana
Texto: Eduardo Marinho

1 comentário: