Compostos por membros de Asphyx e Hail of
Bullets, entre os quais se destaca o recém-regressado guitarrista Eric Daniels,
os Grand Supreme Blood Court prometem dar que falar. Aproveitando o lançamento
do álbum de estreia do grupo, conversámos com o vocalista Martin van Drunen.
Como começou este projeto e como culminou no
lançamento do “Bow Down Before the Blood Court”?
Tudo começou
quando o Eric veio ter comigo e com o Bob após alguns anos sem fazer Metal.
Quando voltámos ao ativo com os Asphyx, ele estava indisponível para se juntar
a nós, porque andava muito ocupado e tinha outras prioridades na sua vida.
Encontrámos o Paul como o substituto perfeito. É óbvio que com um estilo um
pouco diferente, mas a sonoridade era praticamente a mesma. A forma como ambos
tocam guitarra é muito semelhante. Ao longo dos anos, o Eric manteve sempre o
contacto connosco, somos amigos. Por isso, quando ele nos falou da sua ideia,
em 2009, propusemos ir para a sala de ensaios improvisar um pouco e ver onde
aquilo nos levava. Na altura, o projeto nem se chamava Grand Supreme Blood Court,
mas sim The Company of Undertakers. Estávamos a divertir-nos imenso e o Alwin
disse-nos que sentia saudades de tocar guitarra, visto que é o Paul que compõe
o material todo para os Asphyx atualmente. Apesar de tocar baixo nos Asphyx e
de também o ter feito nos Pulverizer, o Alwin é guitarrista nos Escutcheon.
Então, ele e o Eric juntaram-se e criaram montes de riffs maravilhosos. Antes que dessemos conta, já tínhamos todas as
canções compostas. Foi aí que o Eric me pediu para ser eu o vocalista e, como o
material era tão bom e brutal, eu aceitei e comprometi-me a escrever as letras
também. Só faltava um baixista para completar a formação e falei ao Eric do
Theo, já que é um tipo impecável nos Hail of Bullets. Todos o conhecíamos e
sabíamos como trabalhava, por isso achámos que era a melhor coisa a fazer. Não
queríamos enfiar um estranho na banda. Depois, a Century Media ficou curiosa
com o que andávamos a fazer e perguntou-nos se podia ouvir aquilo que
compusemos. Dissemos que sim, claro. Assim que ouviu, pediu-nos para lançar o
material e aceitámos. A maioria de nós trabalha com a editora e o Eric ainda
recebe alguns direitos de autor por causa dos discos antigos dos Asphyx. Por
isso, foi algo muito confortável. Resumidamente, é esta a história.
Há, claramente, um conceito por detrás das
letras. Podes falar um pouco sobre ele e contar como surgiu?
Na verdade,
foi uma coincidência, já que, inicialmente, o projeto se chamava The Company of
Undertakers. Tinha esse nome, porque, apesar de não o vermos como uma
brincadeira, era apenas algo para nos divertirmos. Porém, com o tempo, as
estruturas das canções, os riffs e afins
ficaram tão bons e profissionais que chegámos à conclusão que tínhamos dar um
passo em frente. O conceito surgiu quando estava com o Eric enquanto ele
escrevia as partes de guitarra. De repente, sentei-me no sofá e veio-me à
cabeça uma ideia à qual chamei “Supreme Blood Court”, ou algo do género.
Contei-lhe a minha ideia e ele mostrou-se muito entusiasmado e incentivou-me a
desenvolvê-la. Então, comecei a escrever sobre isso e as canções ficaram
prontas. Foi muito divertido e prazeroso. No entanto, apesar de ser um disco de
Death Metal e as letras serem típicas do género, as pessoas deviam ler o que
escrevi como uma espécie de livro de banda-desenhada. Como se fosse um livro de
banda-desenhada sobre os cinco juízes que aparecem na Terra do nada e começam a
servir justiça. Ninguém é preso, todos morrem no fim. A sentença é sempre a
morte.
Sim, todos morrem cremados no final.
Exato. Tudo
depende do crime que cometeste e se a sentença vai ser dolorosa e lenta, ou
piedosa e rápida. Foi muito divertido escrever esta história e acho que liga
muito bem com a banda.
Sem dúvida. Contudo, apesar de ser um
conceito refrescante, também parece ser um pouco limitado. Foi difícil escrever
um álbum inteiro sobre ele?
Podes crer
que foi! (risos) No início, começas cheio de frescura e com um montão de
ideias, mas, depois, à medida que vais escrevendo, apercebes-te que te estás a
repetir. Só falas da justiça, dos juízes e das brutais sentenças de morte. De
repente, apercebes-te que a tua fonte de inspiração está completamente gasta.
Eu lia as letras e via que estava sempre a repetir versos. Foram precisas
várias revisões, porque tinha de ser mais original e fazer algo melhor. No fim,
foi muito difícil, especialmente as duas últimas letras. Até encontrar ideias
novas, andava às voltas. Algumas palavras ainda se repetem, mas tentei evitá-lo
ao máximo. Foi uma verdadeira luta.
Ainda é muito cedo, mas achas que vais
utilizar o mesmo conceito no próximo álbum?
Não! O que
acontece é que, quando trabalho com bandas, gosto de estar sempre à frente dos
acontecimentos. Por exemplo, se termino um álbum, gosto de começar a pensar
imediatamente em ideias para o próximo. Não gosto de me sentir desinspirado
quando me apresentam ideias para um novo trabalho. Com os Grand Supreme Blood
Court, estava num dilema, porque tinha esgotado todos os meus recursos. Só há
pouco tempo é que me surgiu uma ideia diferente quando estava na sala de
ensaios. Foi uma coincidência, até. Também está relacionada com tribunais, mas
vai ser diferente. Pelo menos, já tenho uma ideia para um próximo
álbum. De certeza que vamos lançar mais um, porque adorámos fazer este.
Como foi trabalhar com o Eric depois de
tantos anos?
Deixei de
trabalhar com ele depois do “Last One on Earth”, ao passo que o Bob foi após o
“On the Wings of Inferno”, de 2000. Ao longo dos anos, continuámos amigos, por
isso não existia qualquer animosidade entre nós. Sempre foi uma boa relação.
Voltar a trabalhar com ele foi uma espécie de flashback, especialmente quando nos juntámos os três na sala de
ensaios e pensámos “aqui estamos nós outra vez”. Para mim, o melhor foi ver o
Eric voltar a fazer aquilo que mais gosta, tocar Death Metal. Ele é um grande
compositor de riffs e um excelente
guitarrista dentro do seu estilo. Não é um solista, mas a forma como escreve riffs… Foi mesmo muito bom ver o prazer
que ele retira disto tudo. Simplesmente fantástico.
Será que podemos ver este projeto como uma
continuação do que vocês fizeram enquanto estiveram juntos nos Asphyx? Isto é,
como se os Asphyx tivessem terminado depois do “Last One on Earth” e tivessem
regressado agora sob outra denominação…
Nem por
isso, porque nunca foi essa a nossa intenção. Quando o Eric veio ter connosco,
não imaginámos sequer que acabaríamos por lançar um disco. Depois, a Century
Media pediu-nos para lançar o álbum, porque achava que tinha potencial. E nós
aceitámos. Por que não haveríamos de o fazer? O material já estava composto. A
grande diferença entre hoje e o passado é que o Eric não estava habituado a
trabalhar com outro guitarrista. Ele foi sempre o único guitarrista nas bandas
em que tocou. Por isso, estava um pouco cético em relação a isso. No entanto,
depois de ter trabalhado com o Alwin, disse que houve uma química perfeita
entre os dois. Com certeza terás reparado em algumas melodias ao longo do álbum
que não parecem ter sido escritas pelo Eric. Essas partes são as do Alwin.
Muita gente ficaria surpreendida se soubesse o quanto ele contribuiu para este
trabalho. No que toca às guitarras, acho que foi mesmo 50/50 entre ele e o
Eric. No entanto, voltando à tua pergunta, a resposta é sim. Podes ver este
projeto como uma continuação do que eu, o Bob e o Eric fizemos no passado.
Até porque este projeto e os Asphyx partilham
muitas semelhanças. Algo que não admira, já que vocês os três fazem, ou já
fizeram no caso do Eric, parte dos Asphyx. Além disso, tanto este álbum como o
“Deathhammer” foram misturados pelo Dan Swanö. Não te preocupa que as pessoas
pensem que as duas bandas são demasiado parecidas? Ou achas que existem claras
diferenças entre elas?
Em primeiro
lugar, penso que existem algumas diferenças, mas é óbvio que existem muitas
semelhanças também. Nós perguntámo-nos muitas vezes o que devíamos fazer. Teria
sido melhor não fazer nada e deixar o material arrumado na estante? Teria sido
uma pena! Já sabíamos que as pessoas nos iam perguntar se não teria sido mais
simples o Eric regressar aos Asphyx. Contudo, há uma explicação para isso. A
base dos Asphyx de antigamente e de hoje é a mesma, ou seja, nunca nos vamos
vender e iremos sempre preservar o estilo brutal que temos. No entanto, há uma
clara diferença entre o que eram os Asphyx antigamente e o que são hoje. O que
acontece com os Grand Supreme Blood Court é que, principalmente devido aos riffs do Eric, remetem um pouco para o
estilo antigo dos Asphyx. Claro que existem semelhanças, mas atualmente é o
Paul que escreve tudo para os Asphyx. Foi ele que escreveu o “Death… the Brutal
Way” e o “Deathhammer”. Acho que teria sido uma falta de respeito para com ele
expulsá-lo só para trazer o Eric de volta. Não teria sido nada simpático, como
deves entender. O surgimento deste projeto foi uma espécie de desenvolvimento a
partir dos problemas que falei. Acabámos por fazer um disco e, ao que parece, o
Alwin gostou muito de se ter juntado a nós, tal como o Theo. Foi assim que
aconteceu e não queremos ofender ninguém! Simplesmente fazemos aquilo de que
gostamos. Achamos que o material é muito bom e divertimo-nos imenso. Haverá
sempre gente a atacar-nos. No entanto, é como já disse, íamos deixar este
material arrumado na estante?
Não acredito que as pessoas vos ataquem por
causa disso. O que acontece é que tu, em especial, tens um estilo muito
característico e a forma como cantas nos Asphyx ou nos Hail of Bullets, por
exemplo, é muito semelhante. As pessoas notam isso, mas não o veem como algo
negativo, entendes?
Sim, acho
que tens razão. É difícil para mim, é a minha voz. Com os Asphyx tento fazer
gritos mais agudos, ao passo que nos Hail of Bullets tento fazê-los mais
graves. Dá sempre para ver que sou eu, é a minha voz. (risos) Independentemente
do que faça, é assim que soa. Antes de o Eric vir ter comigo, pensava que já
tinha duas bandas e que não me ia meter em mais nenhum projeto, senão seria
demasiado. Nunca esperava era que o Eric viesse ter comigo com uma proposta tão
aliciante. Não é que ele me tenha implorado, mas notei que ele queria muito que
me juntasse a ele e não consegui dizer que não. Era bom demais para dizer que
não.
Claro, não te estou a julgar! (risos) Não
tens culpa de ter um registo tão característico. Aliás, isso até é muito bom.
Sim, mas, em
certa medida, acabas por ter razão. Às vezes, acho que estou a exagerar com
estas bandas todas. No entanto, de uma coisa tenho a certeza. Esta vai ser a
última banda em que me envolvo, independentemente do que acontecer! (risos) Já
cheguei ao meu limite de bandas.
Mas não criarias uma banda onde não tocasses
Death Metal e fosses baixista em vez de vocalista? Afinal de contas, chegaste a
tocar baixo nos Asphyx e nos Pestilence.
Tenho falado
dessa ideia com um amigo meu nos últimos cinco anos. Ele toca Hardcore e, uma
vez, estávamos numa festa e eu disse-lhe que se alguma vez criasse um projeto
onde só tocasse baixo que seria algo na onda de Discharge antigo, GBH, por aí.
E seria esse meu amigo a assumir as vozes. Para mim, já chega de ser vocalista!
(risos) No entanto, não vou concretizar essa ideia para já, porque estou
demasiado ocupado com outras coisas.
Regressando aos Grand Supreme Blood Court, o
vosso primeiro espetáculo vai ser na Alemanha, no dia 1 de Dezembro. Já
ensaiaram muito?
Ensaiámos
uma vez com a banda completa e algumas vezes só eu, o Bob e o Eric. Foi mais
por causa do Eric, porque há muito tempo que não pisa um palco. Eu e os
restantes membros já somos veteranos. Fazemos espetáculos durante o ano todo,
por isso não é nada de novo. Será entusiasmante partilhar o palco com o Eric
depois destes anos todos. No entanto, também será estranho. O espetáculo é a um
Sábado e o que vamos fazer é um ensaio geral na Sexta-Feira. Todos sabemos qual
é o nosso papel e estamos ansiosos para tocar.
E que planos têm para a agenda da banda?
Não
exagerar. Nunca tivemos a intenção de tocar tanto ao vivo como nos Asphyx ou
nos Hail of Bullets. Por isso, se fizermos mais espetáculos, queremos que sejam
mais exclusivos. Muita gente já nos perguntou o motivo de o nosso primeiro
espetáculo ser em Ingolstadt. Escolhemos esse lugar, porque as pessoas que
estão a organizar o evento são muito especiais. Costumam organizar um festival
chamado Death Doomed the Age e é sempre um evento muito especial. Por exemplo,
este ano receberam o primeiro espetáculo de sempre dos Death Strike. Quando
souberam que íamos lançar um disco, convidaram-nos e nós aceitámos, porque sabemos
que organizam tudo muito bem. A comida é maravilhosa, assim como o ambiente e a
cerveja. Vai ser muito bom! Depois, talvez façamos alguns espetáculos na
Holanda. Gostaríamos de tocar no Party.San outra vez, por exemplo, porque
gostamos muito desse festival. A partir daí, talvez escolher alguns concertos
em alguns países onde realmente desejemos tocar.
E já que falas de festivais, tocaste este ano
com os Asphyx e os Hail of Bullets cá em Portugal, no SWR Barroselas Metalfest.
Gostaste da experiência e do festival?
Se gostei!
Foi muito bom. Em primeiro lugar, o festival era fantástico, assim como o ambiente. Por
vezes, até andava lá no meio do pessoal e tudo…
Sim, eu vi-te e até chegámos a conversar!
A sério?
(risos)
Sim, estive no meet & greet contigo.
Porreiro!
(risos) Há coisas que nunca esquecemos! Lembro-me de uns grandes bonecos de
cartão que lá estavam e um deles era eu. Tirámos algumas fotografias e
divertimo-nos imenso. Também nos fizeram uma espécie de questionário com os
Hail of Bullets. A única coisa má, e não sei a razão para ter acontecido, foi a
minha voz estar danificada. Talvez tenha sido por causa dos voos regulares e do
ar condicionado dos aviões. Quando estava em palco com os Asphyx, tive
problemas com a voz. Foi uma verdadeira treta! No fim, achámos que vocês
mereciam mais! Queremos voltar aí e fazer um espetáculo como deve ser.
Sim, mas safaram-se…
No fim, sim.
Com os Hail of Bullets, estava em plena forma. Correu muito bem, mas com os
Asphyx… Quando acabou, até dissemos que foi o pior concerto que demos. Eu sei que as pessoas gostaram muito. Foi divertido ver o Tony,
dos Whiplash, a saltar do palco a meio do nosso concerto. No fim, ele veio ter
connosco e elogiou-nos, mas eu disse que estava triste com o que tinha
acontecido e que me sentia mal, porque achava que podíamos ter feito muito
melhor. Se calhar, como público, vocês não sentem isso, mas como banda, nós
sentimos que podíamos ter feito melhor e que vocês mereciam mais. Ainda bem que
gostaram. No fim de contas, o espetáculo nem foi assim tão mau, mas o início
foi um pouco atabalhoado, especialmente por causa da minha voz. Quando tens
problemas de voz, tens de aquecer durante uns três ou quatro temas e consegues
recuperá-la por mais algum tempo. Só não entendi qual foi o problema. Como
disse, penso que tem a ver com os voos regulares. Uns dias antes, estivemos na
Roménia e, depois, eu fui para Portugal por causa do concerto de Hail of
Bullets e, logo no dia a seguir, subi ao palco com os Asphyx. É estranho,
porque quando andámos em digressão por Maryland, nos E.U.A., nunca tive a voz
em perfeitas condições, apesar de treinar muito. Daí defender que o problema se
deve ao ar condicionado dos aviões. Mas, voltando ao festival, se nos
convidarem para ir aí outra vez, nós vamos! (risos) Os meus cumprimentos aos
organizadores pelo seu trabalho fantástico. Só foi pena os Hirax não terem
aparecido…
E, pronto, chegámos ao fim. Alguma coisa que
queiras acrescentar?
Apenas que
esperamos regressar aí, porque não ficámos satisfeitos com o último espetáculo.
Teremos a nossa vingança! De certeza que voltaremos a Portugal, porque adorámos
o tempo que passámos aí. E, quem sabe, se formos aí com os Asphyx, basta
comprar dois bilhetes extra, para o Theo e o Eric, e os Grand Supreme Blood
Court também poderão tocar! (risos) Muito obrigado a ti e ao resto dos fãs
portugueses que vieram ver-nos e nos apoiam.
Entrevista realizada em colaboração com a Infektion Magazine.
Entrevista realizada em colaboração com a Infektion Magazine.
mt bom!
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